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Clientes com carros financiados pelo Banco Gmac estão tendo que pagar o valor de uma parcela do financiamento para atrasar outras duas durante pandemia

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O dia 23 de março de 2020 marcava mais ou menos uma semana do início da quarentena imposta pelos governos estaduais para conter a pandemia de Covid-19.

Exatamente naquela data o Conselho Monetário Nacional (CNM) recomendou que os bancos poderiam suspender até duas prestações de financiamentos de automóveis por 60 dias, cobrando as parcelas ao final do contrato, como resposta à crise imposta pelo vírus.

Neste caso, os juros deveriam se manter os mesmos contratados no ato do financiamento e o cliente deveria estar em dia com as parcelas.

Desde então, grandes bancos como Itaú, Santander, Caixa Econômica Federal e Bradesco passaram a oferecer esta opção a seus clientes.

Entretanto, a prática não foi repetida pelo Banco Gmac, instituição financeira ligada a General Motors, fabricante com maior volume de vendas do país.

Os clientes com carros financiados pelo banco da montadora até conseguem deslocar duas parcelas do financiamento para o final do contrato, mas a condição imposta é que seja paga uma “taxa de deslocamento do fluxo dos juros contratuais”, que equivale a quase o valor de uma parcela do contrato.

Ou seja, para conseguir o adiamento de duas prestações, o cliente não terá acréscimo de juros, mas na prática deve necessariamente pagar o equivalente a uma prestação no ato.

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Foi exatamente isso que aconteceu com Michele da Silva Junqueira, dona de uma comércio de açaí em Canoas (RS) e proprietária de um Chevrolet Onix 2018, financiado em 48 parcelas pelo Banco Gmac.

“Já faz quase dois anos que estou pagando o carro e nunca atrasei uma prestação. Mandei um e-mail pedindo a prorrogação do contrato e me falaram que eu poderia conseguir só no mês seguinte (abril), com juros no valor de uma parcela” conta.

Ainda segundo a empresária, após não realizar o pagamento da fatura do mês de março, passou a receber diariamente ligações de cobrança de um escritório e afirma não conseguir contato com o banco para tentar uma renegociação.

“Um escritório de cobrança me liga quase o dia todo me pressionando para pagar. Mas o Gmac em nenhum momento se mostrou aberto para conversas de renegociação, tento ligar diariamente mas não consigo respostas”, explica.

Outro caso semelhante aconteceu com o policial civil Welington Souza, de Macapá (AP).

Ao pedir o congelamento de duas parcelas de seu Chevrolet Onix, Souza recebeu como resposta um e-mail com um boleto anexo no valor de R$ 819,17, que deveria ser pago a título de “deslocamento do fluxo dos juros contratuais”, para que fosse efetuado o congelamento das parcelas de março e abril.

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O valor é apenas R$ 49,83 menor que os vencimentos ordinários de seu financiamento, no valor de R$ 869.

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Já o tecnólogo da informação Leonan Costa, de Santarém (PA), teve sorte melhor. Dono de um Chevrolet Prisma LT 2014/15, ele optou por financiar o veículo com outra instituição financeira.

“Meu financiamento foi pela BV Financeira. Pedi o congelamento logo que fiquei sabendo da possibilidade e consegui que as parcelas de abril e maio fossem jogadas para o fim do contrato sem a cobrança de juros adicionais” afirma Costa.

Ainda de acordo com o tecnólogo, a instituição o informou que caso a crise econômica se alongue, haverá a possibilidade do congelamento de outras parcelas do financiamento.

QUATRO RODAS procurou o Banco Gmac para pedir esclarecimentos sobre a cobrança da taxa, mas a empresa não se posicionou até o fechamento desta reportagem.

VW acresce valor às parcelas adiadas

Nossa reportagem também recebeu relatos de clientes que financiaram automóveis com o Banco Volkswagen.

Em comunicado publicado em seu site, a instituição financeira ligada a montadora alemã informa que os clientes de crédito direto ao consumidor (CDC) com vencimentos em dia podem pedir a prorrogação do próximo pagamento em até 60 dias, sem cobrança de encargos de atraso e com incidência apenas da taxa de juros contratada. 

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Para Jorge Luis Pires Coelho, fotógrafo aposentado do Rio de Janeiro (RJ) e dono de um VW T-Cross Highline 2019/20, no entanto, a comunicação não foi das mais fáceis.

“Minha parcela vencia em 27 (de abril), tentei ligar para a VW, mas não me atenderam. Então escrevi uma reclamação na página indicada no site do Banco VW, recebi um protocolo e aguardei contato”, relatou o aposentado.

Após algum tempo, Coelho conseguiu prolongar o financiamento, mas as parcelas prorrogadas receberam acréscimo de 0,82%. “Ao final das contas eles passaram as parcelas de abril e maio para o final do contrato, no primeiro semestre de 2021, mas aumentaram de R$ 2.372,59 para R$ 2.591,59”, contou.

Questionamos o Banco Volkswagen sobre o motivo deste acréscimo na fatura, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.

Prática pode ser imoral, mas não é ilegal

A resolução emitida pelo CMN recomenda, mas não exige que os bancos façam a prorrogação nem impede que eles cobrem pelo alongamento durante a quarentena do coronavírus.

Em comunicado em seu site oficial, o Procon-SP alerta que o consumidor só deve deixar de efetuar os pagamentos quando for confirmada a suspensão do contrato. Recomenda ainda que sejam observadas as condições do adiamento, que pode resultar na incidência de juros e encargos extras.

Fonte: Quatro Rodas


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